Decorreu ontem (dia 29) a abertura do 1Âş Ciclo de Cinema OlhĂŁo’05, organizada pelo CineClube de OlhĂŁo e pela Câmara Municipal de OlhĂŁo (CMO). O local escolhido para este evento foi o Cinalgarve, que pela hora marcada para o inĂcio da exibição (21:30) estava praticamente preenchido (creio que muitos dos espectadores foram atraĂdos pelo facto da entrada ser gratuita.).
Como apaixonado pela sétima arte julgo que é de saudar esta e outras futuras (espero) iniciativas do género.
A noite começou com umas breves palavras do representante da CMO e agradecimentos aos que tornaram o evento possĂvel. Em seguida tomam a palavra os convidados para partilhar os seus conhecimentos e experiĂŞncias sobre a longa-metragem “Cidade de Deus” e a curta “A Suspeita”. Primeiro falou a Professora Miriam Tavares, acerca da pelĂcula de Fernando Meirelles e do seu impacto e contexto cultural e social no Brasil actual (quatro nomeações para os Ă“scares), dominado por cineastas jovens, ágeis no manuseamento de equipamentos e tĂ©cnicas high-tech postos ao serviço de histĂłrias humanas. O convidado seguinte a conversar com o pĂşblico, sobre a curta “A Suspeita” (galardoada com o Cartoon d’Or 2000) foi o prĂłprio realizador: JosĂ© Miguel Ribeiro, que se fez acompanhar de um dos “actores”, o revisor, um boneco com um esqueleto de metal articulado coberto por espuma de látex. O jovem realizador demonstrou perante o pĂşblico, em versĂŁo abreviada e simplificada, obviamente, como se dá vida a estes personagens, criando a ilusĂŁo de movimento. E de seguida passou-se Ă exibição das pelĂculas propriamente ditas, primeiro “A Suspeita” e depois “Cidade de Deus”.
“A Suspeita” Ă© uma animação de volumes, tecnicamente irrepreensĂvel e que apresenta uma histĂłria de suspense e humor desenrolada num compartimento de um comboio bem portuguĂŞs e com um punhado de personagens caricatas que mantĂŞm o ritmo narrativo.
“Cidade de Deus”. Bem, por onde começar? Um filme brutal e no entanto capaz de momentos hilariantes, dominado por uma montagem frenĂ©tica, uma fotografia extraordinária, excelente trabalho musical, sonoro e de actores. Uma obra da tĂ©cnica e ritmo. E com uma histĂłria, porque Meirelles narra, recorrendo a uma voz-off e inĂşmeros flash-backs, a evolução (ou involução) da vida na zona miserável conhecida por Cidade de Deus, onde a violĂŞncia e o egoĂsmo imperam, onde a vida humana nĂŁo vale mais que a de qualquer outro animal, e onde a sordidez das acções humanas espera por qualquer incentivo para ser libertada e despejada sobre outros seres humanos, numa espiral de interesses, e violĂŞncia que gera somente mais violĂŞncia, uma zona de guerra interminável. A questĂŁo que me fica gravada na mente, depois de ver este filme extraordinário e corajoso, Ă©: será que esta insanidade um dia chegará ao fim? - seja na favela ou no MĂ©dio Oriente. NĂŁo tenho esperança nisso.
Um dos aspectos negativos deste primeiro dia (noite) do Ciclo de Cinema tenho apenas a apontar o comportamento de alguns elementos do público, que se esquecem de desligar o som do telemóvel (ou será que se preocuparam com isso sequer?) e que não souberam guardar silêncio nos momentos apropriados. Embaraçoso e lamentável.
Gostei de assistir no intervalo ao realizador de “A Suspeita” a partilhar conhecimentos e conselhos com um grupo de interessados.
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